segunda-feira, 15 de abril de 2013



PERFEITO

...Chegou no apartamento dele por volta 
das seis da tarde 
e sentia um nervosismo fora do comum. 
Antes de entrar, 
pensou mais uma vez no que estava por fazer. 
Seria sua primeira vez. 
Já havia roído as unhas de ambas as mãos. 
Não podia mais voltar atrás. 
Tocou a campainha e ele, 
ansioso do outro lado da porta, 
não levou mais do que dois segundos 
para atender.

Ele perguntou se ela queria beber 
alguma coisa, ela não quis. 
Ele perguntou se ela queria sentar, 
ela recusou. 
Ele perguntou o que poderia fazer por ela. 
A resposta: sem preliminares. 
Quero que você me escute, 
simplesmente.
Então ela começou a se despir como 
nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: 
“Eu tenho feito de conta que você não 
me interessa muito, 
mas não é verdade. 
Você é a pessoa mais especial que já conheci. 
Não por ser bonito ou por pensar
 como eu sobre tantas coisas, 
mas por algo maior e mais profundo 
do que aparência e afinidade. 
Ser correspondida é o que menos me importa 
no momento: 
preciso dizer o que sinto”.

Então ela desfez-se da arrogância: 
“Nem sei com que pernas cheguei 
até sua casa, 
achei que não teria coragem. 
Mas agora que estou aqui, 
preciso que você saiba que cada música 
que toca é com você que ouço, 
cada palavra que leio é com você 
que reparto, 
cada deslumbramento que tenho é 
com você que sinto. 
Você está entranhado no que sou, virou 
parte da minha história.”

Era o pudor sendo desabotoado: 
“Eu beijo espelhos, abraço almofadas, 
faço carinho em mim mesma tendo 
você no pensamento, 
e mesmo quando as coisas que faço são 
menos importantes, 
como ler uma revista ou lavar uma meia, 
é em sua companhia que estou”.

Retirava o medo: 
“Eu não sou melhor ou pior do 
que ninguém, 
sou apenas alguém que está aprendendo 
a lidar com o amor,
 sinto que ele existe, 
sinto que é forte e sinto que é aquilo 
que todos procuram. 
Encontrei”.

Por fim, 
a última peça caía, 
deixando-a nua.
“Eu gostaria de viver com você, 
mas não foi por isso que vim. 
A intenção é unicamente deixá-lo saber 
que é amado e deixá-lo pensar 
a respeito, 
que amor não é coisa que se retribua 
de imediato, 
apenas para ser gentil. 
Se um dia eu for amada do mesmo
 modo por você, 
me avise que eu volto, 
e a gente recomeça de onde parou, 
paramos aqui”.

E saiu do apartamento sentindo-se mais
 mulher do que nunca...

(Martha Medeiros)

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