domingo, 17 de fevereiro de 2013


"O tempo se apossou do que havia. 
(Foi quando pude te explicar que as minhas 
expectativas não eram exigências). 
Hoje em dia, 
depois de tanta história não acontecida, 
sobrou amizade, 
saudade, respeito. 
Já que fomos tão inábeis para o amor, 
restou enfim, 
essa ternura encabulada
e nossas conversas pela madrugada 
numa hora 
em que a saudade nos 
constrói as frases 
com todos os adjetivos mais suaves 
para não espantar o sono. 
E a consciência de que não 
há mais tempo 
para usufruir o que não foi 
aproveitado a tempo.
(Por isso choramos apenas por dentro 
sem deixar que nossa voz denuncie nosso olhar 
raso de esperas intactas). 
Por isso tanta doçura nas palavras 
pra não ferir ainda mais essa melodia 
frágil e cheia de melancolia. 
E essa tentativa de que o abraço, 
apenas escrito,
 tenha outras formas de tocar. 
Porque queríamos a mesma coisa, 
exatamente o que nos faltava e que 
não soubemos 
porque não tínhamos para dar. 
Seguimos, ainda assim, 
unidos 
— não por sentirmos o mesmo amor, 
mas por compartilharmos 
aquela mesma solidão."

Marla de Queiroz


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