sexta-feira, 29 de julho de 2011


Sou o que se chama de pessoa impulsiva.
Como descrever?
Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu,
em vez de refletir sobre o que me veio,
ajo quase que imediatamente.
O resultado tem sido meio a meio:
Às vezes acontece que agi sob
uma intuição dessas que não falham,
às vezes erro completamente,
o que prova que não se trata de intuição,
mas de simples infantilidade. 
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos.
E até que ponto posso controlá-los.
Há um perigo:
Se reflito demais,
deixo de agir.
E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido.
Estou num impasse.
Quero melhorar e não sei como.
Sob o impacto de um impulso,
já fiz bem a algumas pessoas.
E, às vezes,
ter sido impulsivo me machuca muito.
E mais:
Nem sempre os meus impulsos são de boa origem.
Vêm,
por exemplo, da cólera.
Essa cólera às vezes deveria ser desprezada;
outras,
como me disse uma amiga a meu respeito,
são: cólera sagrada.
Às vezes minha bondade é fraqueza,
às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesmo.
Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime,
às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna.
Que farei então?
Deverei continuar a acertar e a errar,
aceitando os resultados resignadamente?
Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta?
E também tenho medo de tornar-me adulto demais:
eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil,
do que tantas vezes é uma alegria pura.
Vou pensar no assunto.
E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso.
Não sou maduro bastante ainda.
Ou nunca serei.

(Clarice Lispector)

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